O que é a Psicologia?

Quem sou eu? Quais as minhas necessidades? Por que tenho conflitos? Em que sou diferente dos outros animais? Como aprendo? Por que é que, tantas vezes, me sinto inadequado no meu trabalho, entre amigos, na sociedade? Em que me assemelho às outras pessoas? O que posso fazer para ter uma vida mais rica, feliz e produtiva? Como me relaciono com o ambiente físico e social? Estas são, decerto, algumas perguntas que todo ser o humano faz, desde que tem consciência de si.

As primeiras tentativas sistematizadas, discutidas e testadas à luz da razão, de responder a essas questões foram feitas pelos gregos há mais de dois mil anos, através da recém-nascida Filosofia. Com o tempo surge a Psicologia, como um campo de estudo específico dentro da Filosofia, visando compreender a alma, a essência humana.

Durante a sua evolução, a Psicologia sofreu mudanças no seu objecto de estudo, no seu método e até mesmo nas suas verdades. As principais influências e alterações sofridas pela psicologia ocorreram a partir do dualismo psicofísico do filósofo francês René Descartes (1596-1650). O dualismo consistia na separação da realidade em duas áreas distintas: o domínio físico do material e o reino imaterial da mente. Descartes, porém não desconsiderava a possibilidade de interação entre esses dois campos; para ele a sensação, a imaginação e o instinto faziam parte dessa interação.

O Racionalismo e o Empirismo nos séculos XVIII e XIX, as duas correntes que na época dominavam o pensamento ocidental, exercem uma enorme influência na Psicologia. A origem do conhecimento pelas experiências ou sensações; ou a origem do conhecimento através de uma faculdade especial da própria mente, as principais ideias, os debates e questões propostas por essas duas correntes de pensamento continuam até hoje indefinidas e sem resposta. Ainda assim essas duas correntes são influência primordial nas primeiras escolas psicológicas que vão surgir no século XX.

No século XX a Psicologia é beneficiada pelo enorme avanço do conhecimento científico, em especial nas áreas biológicas e sociais, que constituem a base da Psicologia moderna. Surgem as escolas psicológicas: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestaltismo e Psicanálise, ocorrendo um rompimento com o pensamento anterior que criava um dualismo implícito entre a definição da Psicologia como a ciência do Psiquismo ou dos factos da consciência, o que impedia a efetciva definição da Psicologia e sua compreensão como ciência moderna.

As escolas e os estudos psicológicos hoje ainda mostram diferenças metodológicas entre si e formas diferentes de compreender o homem. Porém com todas essas visões e metodologias próprias, a Psicologia hoje tem um campo de estudo: o comportamento humano. Tem também um objetivo: fornecer subsídios para que o homem consiga melhor relacionar-se consigo mesmo, com a sociedade e com as experiências da vida.

A Relevância da Psicologia Hoje 

Nunca na história foi tão relevante compreender o comportamento humano. Na pós-modernidade os conflitos são de todas as ordens. A própria noção de ser humano está em constante transformação, devido às mudanças culturais, à enxurrada de informações, expansão e crise do capitalismo, entre outros. Nesse mundo em que nada é fixo ou imutável ou ainda plenamente verdadeiro, torna-se muito difícil a busca por uma identidade.

A coisificação da vida humana e a antropomorfização dos bens e valores materiais, geram conflitos, frustrações e ansiedade além da nossa capacidade natural de lidar com esses sentimentos. As pessoas expostas por um longo tempo a esses conflitos acabam  por desenvolver as doenças psicossomáticas e em casos extremos neuroses das quais só se conseguirão livrar com um tratamento psicológico adequado.

Na busca para auxiliar o homem nesses conflitos a Psicologia evoluiu muito nas últimas décadas. Primeiro, ela beneficiou-se da evolução das outras ciências o que a permitiu compreender melhor até onde o comportamento depende da herança genética; e o quanto o homem é dependente do que aprende da sociedade, que ao nascer ele já se encontra com valores, crenças e organização definidas, princípios aos quais ele tem que se ajustar.

O Desafio da Psicologia

A grande questão que se coloca para a Psicologia e para os psicólogos, independentemente de visões ou metodologias, é o reconhecimento do valor do ser humano enquanto ser humano. A Psicologia no estudo do comportamento procura alcançar três objectivos: a descrição, a predição e o controle do comportamento. Mas será que isso serve para o crescimento da pessoa? Ou para convencê-la a comprar mais produtos? Ou para ser mais obediente às normas da empresa? Ou ser um aluno comportado? Ou ainda, um religioso devotado?

O ser humano tem características muito especiais que realmente o diferem dos outros animais. A capacidade de aprendizagem, da qual ele é extremamente dependente. A linguagem que lhe permite recriar o mundo simbolicamente. A razão, os sentimentos, enfim todas essas características que devem ser trabalhadas para alcançar o bem do homem e do mundo. E não para a escravização de ninguém, pela mente, cultura ou dinheiro.